11 de novembro de 2014

Lobo mau


Que lobo tão grande que vivia naquela floresta!...Um animal de meter medo a qualquer outra criatura que habitasse nas redondezas. Por ali quase toda a gente o evitava. Ao certo ninguém sabia bem porquê. Se era medo, se era respeito, se era pelo feitio complicado. A verdade é que nem eu percebia muito bem. 
Eu já tinha privado com ele. Na altura pareceu-me ser um bom lobo. Às vezes retirava aquela expressão séria e parecia mesmo sorrir para mim. Houve momentos que nem me sentia na sua toca. E quando sentia, gostava. Porque sabia que estava ali. E para o que estava ali. Cheguei a entender o interior daquela criatura peluda e desorganizada. Muitas vezes olhei lá no fundo e entendi tudo. Li e reli as histórias e as desventuras daquele animal. 
Ainda hoje, passou por mim, e enquanto todos os outros estremeceram, murmuraram e se afastaram, eu deixei-me ficar. Ele até pode rosnar. Uivar. Pode passar com aquele ar altivo. Eu vi, olhei e gravei. O lobo mau da floresta. Sim, o lobo mau! 
Até porque um dia eu conheci um carneiro, um carneirinho muito bonzinho. Toda a gente gostava dele. E olhei, observei, convivi e ouvi. E percebi. Percebi que aquele cordeirinho era um animal disfarçado. Um animal enganado. Porque na minha vida, na minha casa e na floresta onde vivo, prefiro um lobo mau com coração de cordeiro, do que um cordeiro com alma de lobo mau. 

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