31 de dezembro de 2014

Sabes bem onde me encontrar


Afinal cansei. Meu espírito cansou do que foi e do que o vento trouxe. Cansei de viver uma vida que não era minha. Cansei desta casa em que habito há tanto tempo. Não aguento mais trancada aqui deste lado. Não me apetece mais isto. Não me apetece de todo o que levo por ti e por ti e pelo outro. Não quero mais saber. Não quero saber de procurar, procurar e procurar onde não há nada para encontrar. Não vou usar mais tempo na descoberta do que não existe. Lembrei que não importa continuar quando não te encontras. Não interessa lutar pelo que não quer ser alcançado. Hoje, olhei-me com os meus verdadeiros olhos. Hoje, finalmente alcancei-me. Decidi respirar sem máquina. Quem decide os meus passos sou eu. São os meus pés que decidem onde piso. Só eu decido se quero dançar à beira do precipício ou esconder-me na gruta mais escura. Não me importa se concordas, discordas ou mesmo se não tens opinião. Eu basto-me. Danço muito bem sozinha. Caminho tão firme e segura, que não preciso dessas moletas. Vive junto a mim porque me admiras, não me acompanhes porque me necessitas. Se queres estar comigo, vem ao meu lado. Não te coloques à minha frente. Nem no alto pedestal. Não quero mais correntes. Quero liberdade. Quero correr livre. Respirar fundo, sem pressa. Viver sem medos. Ser feliz, é estares preenchido por dentro. E só tu te podes preencher. Os outros só te vão acrescentar. Alcança-te, regenera-te, felicita-te, enobrece-te, sente-te, alegra-te. Não te deixes dominar. Não te deixes contaminar. E se já deixaste, descontamina-te. E constrói-te. E se for preciso desmonta tudo e cria de novo. Preenche do zero. Mas fá-lo. Ama-te. Ama-te a ti. Amor próprio é o que te traz felicidade. É o que te vai proteger. É a tua muralha. O teu abrigo. O teu escudo. Por isso, cuida. Cuida-te. Então, eu hoje cansei. Tenho o espírito solto na vida. A alma a correr por aí. E quando quero, só eu a alcanço. Só eu me alcanço. Portanto, não quero mais, não. Não quero. Só quero o que for bom para mim. Só aceito amor. Então, se não quiseres respeitar-me, eu não quero mais. Quero-me a mim. Quero-me toda. Completa. E se me quiseres acompanhar, nesta jornada da vida, se te falto nos momentos, se te faço falta. Já sabes. Tu sabes. A decisão da tua vida só a ti pertence. Quando souberes se me queres dar a mão e caminhares ao meu lado aparece. Sabes bem onde me encontrar.

29 de dezembro de 2014

Não te deites antes do sol se pôr


Há muito, muito tempo, quando tudo ainda não era prédio, quando casa era refúgio de pedra e as terras não se chamavam pelo nome, havia uma menina de lindos cachos dourados. Chamavam-lhe de Lua. Mas não se escrevia assim, porque ainda nem se escrevia. Não se dizia assim, porque esta palavra não existia. Era Lua porque ficava por horas a observar o céu estrelado e a sua lua. Toda a gente da pequena povoação a conhecia assim. Todos se exprimiam diferente acerca do nome da pequenina, mas o significado era o mesmo. 
Durante o dia, Lua corria pelas colinas e colhia flores para oferecer à sua mãe. Brincava com os pequenos bichinhos da floresta e colhia frutos silvestres que guardava na sua sacolinha de palha adereçada junto ao seu peito. Os que mais gostava eram as framboesas e amoras. Conseguia passar horas e horas a comer. Comia tanto, que só terminava quando já toda suja, lhe começava a doer a barriguita. Depois, lá ía até ao riacho lavar-se e caminhava cantando até sua casa. 
Mas o que mais adorava era a noite. Adorava aquele céu estrelado. E aquela lua brilhante? Os outros meninos tinham medo da noite. Medo do escuro. Deitavam-se todos antes mesmo do sol se pôr. Havia mesmo alguns crescidos que faziam o mesmo. Sentiam-se expostos. Diziam que não conseguindo ver com clareza tudo à sua volta, não conseguiam caminhar. Que sem luz não avistavam o longe. Não reconheciam o desconhecido. “Pois está bem”. Pensava sempre Lua! Não podia discordar mais. De que serve ver tudo, se nada brilha? De que serve tanta luz, se assim nenhuma se destaca? Sim, de que serve? De que serve ver tudo a quilómetros de distância, e não se ser surpreendido? No escuro da noite, todas as estrelas eram belas. Até as mais pequenitas. Até as estrelas mais distantes cintilavam, como se chamando a sua atenção. Como a menina Lua adorava que chegasse a noite. E o escuro. Ela gostava da surpresa do mais além. Até o ar era diferente. Mais fresco, mais puro. “Noite, noite, que dás valor ao dia. E tu, lua magnífica, que só te impões por esta escuridão que vem refrescar a vida. E venham estrelas, estrelinhas. Venham piscar, no caminho da caminha. Venham que todas brilham, por mais longínquas que estejam. Vem noite. Vem noite estrelada. Vem, que sem noite, ninguém dá valor ao dia!”. Palavras da pequenina. Pensamentos da Lua menina. Frases da pequena Lua que levava seu lema de vida aos altos da sua grande amiga lua.


Então, não vamos esquecer: podemos ter luz, podemos ter calor, podemos ter amor, podemos ter companhia, podemos mesmo ter muita coisa. Podemos ter o que temos. Há quem chegue a ter quase tudo. Mas não teríamos luz sem conhecer a escuridão. Não daríamos valor ao calor, se não houvesse o frio. Não haveria a saudade, se não tivesse existido já a presença. Como sabes que queres a presença, se não houver a ausência? Diz-me como te secarias se nunca te tivesses molhado? Valorizarias o sol sem a existência da lua? E as estrelas? Irias conseguir vê-las se não estivesse escuro? Por isso, vamos aceitar o que a vida nos traz e perceber que por vezes para encontramos um caminho brilhante, necessitamos de percorrer um labirinto escuro. Ao invés de te queixares, aproveita a noite para veres as estrelas. O escuro serve para veres a luz. A sede serve para valorizares a água. Dá mais valor ao que tens. Dá valor a vida. Aproveita o momento. 

Por isso, não te deites antes do sol se pôr, por favor!

24 de dezembro de 2014

Ser feliz


Saio leve, a voar junto ao vento que corre logo pela manhã. Encosto a face à folha orvalhada e respiro a brisa fresca que me acorda e arrefece. Sei agora o que é. Sei do tempo que não foi e saio aproveitando o que passa. Não suspiro mais o passado e não sigo caminhando na luz do após que não vês devorar-te a alma. Inspiro bem de leve o perfume que agora aquece o meu peito e ilumina os meus passos. Quero tudo e não oprimo o sentimento que chega e deixo-o seguir na partida quando a hora vem. A sorte, é ter o fado de não viver preso no que foi e no que há-de ser. Ser feliz é tão fácil como deixar o tempo tudo levar e não colar no querer ficar ou partir. Estar tranquilo no espaço que tu tanto anseias mudar e alterar o rumo. Deixa passar a vida como ela quer seguir, e não feches as portas desse castelo que tão altas muralhas elevas. Quando te prendes no poupares a vida, no não sofregares a alma, inibes o encanto das flores que brotam desse jardim. Não te poupes da coesão das cargas e dos pólos da essência do agora. Deixa esse rio seguir em direção ao mar salgado e não coloques pedras de aço no caminho. Fecha os olhos e deixa entrar tudo aquilo que cabe nesse saco tão vazio que trazes contigo ao peito. Eu vivo pensado no momento perene. Sorrio na chuva e choro ao sol e deixo o arco-íris entrar logo pela manhã. Não me protejo do funesto porque não sei se essa fuga não me afoga. Não sei quando fujo do hábil sentido do que podia ter acontecido, se não fosse o monstro da proteção me encaminhar em direção oposta. Olha para mim. Não sou Deus. Não sou perfeita. Sou eu. Apenas eu. Mas sou feliz à minha maneira. E esta maneira de vida, tem um sentido, que caminha por onde a corrente leva. Tem um encontro que não cega as intenções. Abre as portas, para que esse ar prejudicial saia. Mas mais que tudo para que essa vida boa e cheia de sentimentos arrebatadores te faça sentir que estás vivo. Deixa entrar, para perceberes que também podes sentir, e que na vida, nem tudo é só ruir!

20 de dezembro de 2014

Experimenta-te!


Solidão. Diz-me, essas correntes que trazes amarradas a ti, são mais fáceis de carregar se eu também as transportar comigo ao teu lado? Conta-me lá. Tu, que vives rodeado de pessoas. Tu, que és tão social que não tens tempo para ti. Sentes-te preenchido ao fim do dia? Tu, que nem na cama consegues aquecer os pés sozinho. Sentes que te inflamam sempre esse espírito? Sentes essa alma aquecida? Sim, conta-me tudo. Tu, que dizes que aguentas tudo. Tu, que és o rei da selva. Dizes que és dono de ti. O teu mestre. Chegas a pensar ser o meu. Sabes muito bem quem és. Podes esconder-te atrás de tudo. Atrás do ego. Da cara séria. Do coração de gelo. E dessa expressão de quem tudo tem controlado. Podes mesmo usar essas tuas muralhas de pedra. Podes continuar. Tu, tu e só tu vais descobrir que solidão não é estar sozinho. Solidão é viver rodeado de pessoas que são apenas isso. Pessoas. Solidão, é não saberes ser feliz sozinho. Porque, vou-te contar. Vou-te contar só a ti. Tu, que te dizes homem feito. Acompanhado não significa junto. Muita gente te acompanha. Muita gente vai na corrente. Porque o peixe que tu pescas, também dá jeito apanhar. Junto, tens que estar primeiro de ti. Preenche-te para que depois alguém possa completar. Enche o teu copo de água. Enche. Enche bem. Só depois alguém irá trazer os limões e o açúcar. Aprende que para qualquer pintura é preciso tela em branco sem manchas. Sem furos. Sem cor. Não queiras colocar o telhado onde ainda nem há paredes. Respira. Isso que sentes sozinho não é solidão. Isso és tu. És tu sem quem. És tu a comandar. Porque enquanto não te formares capitão desse navio que tens preso no cais, não adianta recrutares marinheiros. Tem calma que tudo se alcança. A vida avança. Apenas sente a tua vida. Não a deixes passar e tu a olhar. Não queiras ficar nas correntes. Só, não é o escuro. Deixa-te só, que só vai demorar um pouquinho até te encontrares. Encontra-te, para no após seres descoberto. Quando aprenderes a te amares sozinho, estás a um passo de aprenderes a amar alguém. Por isso, te digo: estar só tem mais gente que a alma vazia de estar acompanhado de apenas pessoas. Ilumina-te, para que possas ser a luz. Então, tu. Sim, tu já sabes. Só e solidão, não é o mesmo, não. E estar só, não é tão difícil assim. Experimenta. Experimenta seres tu. Apenas tu. Experimenta-te! 

9 de dezembro de 2014

Erra e acerta


Há uma história, que corre pelas ruas e se ouve sussurrada pelo vento. A história de uma menina. O conto de agora uma mulher. A menina corria, brincava e sorria. Vivia numa aldeia pequenina. Desde que nasceu ela estava ali. Adorava aqueles montes e vales que rodeavam a sua casinha. Brincava sempre nos mesmos sítios, com os mesmos amiguinhos. Ela nunca se chateava. Deixava toda a gente decidir as partidas e jogos. Mesmo quando achava que tinha razão, ela sorria e não se importava. Ela só queria estar em paz e não sofrer. Como tudo era tão fácil. Todos tomavam as decisões por ela. Ela não tinha que se preocupar com nada. Apenas seguia toda a gente e acompanhava o passo. Mesmo quando não gostava ela ía. E assim, cresceu a menina. Respirou toda a rotina, vezes e vezes sem conta. 
Um dia, a pequenita adulta, deparou-se com a solidão na sua pequena aldeia. Onde estava toda a gente? Abandonaram-na! Só podia ser isso. E agora? Ela só pensava o que seria dela. Quem iria decidir o seu dia-a-dia. Não se apercebeu como aquilo aconteceu. E agora estava sozinha. Solitária.  Apenas só. Então, decidiu fazer tudo como sempre tinha feito ao longo dos anos. Passaram dias, meses, vários meses. E ela sentia-se igual, abandonada. E nem sentia prazer naquelas atividades. A menina chorou durante muitas horas. Sentia-se sozinha. Tão sozinha. Foi dormir cedo nesse dia. 
Pela manhã, acordou, abriu os seus grandes olhos, e fitou o teto durante vários minutos. A menina pensou: toda a gente seguiu os seus passos, abandonou a aldeia, os vales e os montes quando chegou a altura. Apenas ficou ela. Levantou-se, vestiu-se de maneira diferente de todos os outros dias. Pegou no seu carro e saiu pela estrada. Sem rumo, sem decisões, sem destino. E assim, começou a real vida da pequenita já crescida. A aventura. O crescimento interior. A linda menina descobriu que para se viver é preciso arriscar. É preciso sair da rotina. É preciso amor-próprio. Vontade. Mais do que estar protegida do sofrimento, dos vilões, é preciso encarar. É preciso vencer, perder. Porque o que se mantém parado são as árvores. E não, nós não temos raízes. Temos o mundo. Temos o tempo. Temos a hipótese de escolha. Porque, vida, não se pode chamar de vida, se não for mais com menos. Se não tivermos as desilusões para valorizarmos as vitórias. Porque sim, menina, não há arco-íris sem chuva. Não há alegria sem tristeza. Por isso, arrisca. Vive. Sofre. Sorri. Chora. Abraça. Só não fiques aí parada. Não deixes que comandem a tua vida. Segue o teu rumo. Segue, que todos os pedaços se juntam. Se estás presa, solta essas correntes e dá-te a oportunidade de viveres! Viveres tu, a tua vida! Erra, acerta, mas faz alguma coisa. Coragem. Não é difícil!

7 de dezembro de 2014

A estrada


Nos dias em que te perdes, para e olha à tua volta. A estrada sempre leva ao mesmo destino. A tua vida é uma grande esfera. O infinito do caminho é perecível na forma como levas os teus passos. Podem haver curvas, subidas, descidas, filas de espera e muita neve pelo caminho. Mas nunca te esqueças que os melhores condutores não se fazem de estradas direitas, caminhos simples e sem obstáculos. O truque não está no destino. A arma é a forma como encaras a estrada e todos os pneus furados e vidros partidos. Coragem, que é nos audazes que está a essência da mudança. Força, que é na diferença que está a meta da vida que tanto anseias que chegue!

6 de dezembro de 2014

Hoje à noite


É hoje. Uma daquelas loucas noites numa discoteca da ralé, onde só frequenta gente sem rumo. Gente que está bêbada de mais e que solta o pé para tentar esquecer tudo. Hoje é dessas noites. Quero a multidão, a confusão, a música alta e a língua solta. É aí... nessa altura, nesse preciso momento que eu te quero ver chegar! E como adorava ver-te! Porque hoje, o meu desejo por ti está solto. Quero falar-te ao ouvido. Sussurrar-te baixinho. Quero mostrar-te. E que me mostres. Hoje vesti-me para me despires. Quero conhecer o teu quarto escuro. Quero ter-te a noite toda e esquecer quando amanhecer para continuar contigo. Hoje sou tua. Fazes o que quiseres comigo. Fazes o que quiseres de mim. Porque hoje, eu quero tudo. Posso tudo e deixo-te poder o tanto e o muito. Por isso, vem. Vem borrar este batom. Vem beijar-me o pescoço. Vem que hoje eu vou dançar na pista para ti. Vão olhar. Tentar mexer. Tocar. Mas eu sou tua. E quando estivermos no ponto, vamos sair dali. E vamos para aí. Já te disse, hoje quero conhecer o teu quarto escuro! O teu lado escuro. O teu mundo negro. Essa alma negra. Quero que me carregues nos braços e me prendas. Que me rasgues a roupa. Que me beijes. Que me mordas. Quero tudo. Quero agora! Por isso, bebé, vem! Já sabes onde me encontrar hoje à noite.

4 de dezembro de 2014

O segundo de agora


Gosto de perceber hoje, o que não percebia ontem. De saber agora o que não sabia à bocado. Sim, gosto de descobrir. De crescer. Aprender. Aprender a concluir. A conclusão de hoje, que será a introdução de amanhã. Respiro fundo para absorver tudo. Aceito o que vem e aparece, como uma dádiva de orvalho num dia quente de verão. Cresço como planta após chuva e dia de nevoeiro. E sim, aceito. Aceito o que me queres dar. E o que não queres. Aceito o que é o momento e não tento descobrir o depois. Ao talvez eu não pertenço. Pertenço aqui e agora. Descubro o amanhã quando o passar que passou. Porque criança destemida que não vives os segundos, quando vives as horas do após, os minutos de agora foram no passado do tempo. Espaço que não sobra para pensar. Porque pensas de mais na vida. O talvez com que amanheces fica como perdurando todo o dia. Segue. E deixa seguir. Deixa seguir a vida. Apenas. Porque teres pena, já passou. E se o arrependimento durou, respira que o dia de amanhã chega. E percebe: a questão que esclarece, também é a questão que enlouquece. Ri. Sorri. E sê feliz. O que conta, é o segundo de agora.