26 de janeiro de 2015

Queres ser um anjo? Eu prefiro ser um demónio!


Toda a gente tem sempre alguma coisa para falar sobre nós. Há na realidade, uma completa opinião formada sobre a nossa pessoa. E chego a achar, não sei se hilariante, se comovedor, as pessoas pensarem que nos conhecem, atirando e rotulando com várias palavras sobejamente conhecidas. Não digo como ofensa. Mas acaba por se tornar uma descrença no ser humano. Afinal de contas, será que não passamos mais tempo preocupados a classificar os outros em vez de olharmos para nós mesmos? Não é de todo obsoleto, acharmos que conhecemos alguém, quando por vezes nem a jornada de nos conhecermos a nós ainda começamos a percorrer? Ou mesmo quando tais características se adaptam de suave à nossa pele. Não seria melhor preocuparmo-nos com a nossa vida - acreditem, tantas vezes precisa de ser cuidada - em vez de andarmos constantemente arrebitados a levantar as saias que não nos dizem respeito. E pior que classificar como mentirosos, interesseiros, falsos, feios, gordos, entre outros adjetivos ardentes sempre prontos a sair, é cair na introspecção e canalizar que assim, também o podemos ter sido, somos ou poderemos vir a ser. Ai tu és perfeito? Peço desculpa então, se te ofendi! Nunca mentiste, fizeste algo com segundas intenções, enganaste ou prejudicaste? Então desculpa mesmo. E digo-te com toda a certeza, que realmente, deves pertencer aos céus. Um ser realmente divinal. Um anjo, talvez? Então, eu digo e afirmo: eu devo ser um demónio. Sim, vindo diretamente do inferno. Porque eu faço isso tudo. Minto com boas intenções, mas minto. E se já o fiz com más? Com toda a certeza. Sou falsa às vezes? Sou. Porque não me apetece ser verdadeira. Porque não tenho paciência. Porque quero conseguir algo em troca. Porque sim. E pronto. Se já fui interesseira? Já. E tantas outras coisas de conotadas de horríveis e sem valores. Porque este é o mundo real. Corpos com células, hormonas, cadeias e mecanismos interligados. E funciona tudo assim. Pelo cérebro, pelo coração, os pulmões, a pele e todos os outros. Não somos máquinas programadas, nem anjos de Deus imaculados. A realidade, é que quando chega à hora, valemos todos o mesmo. É no dito, é no feito e acontecido. A nossa carne é feita do mesmo e os nossos valores somos nós que os construímos. 

Por isso, gostava de pedir a todos os senhores puros que andam por aí, que pensem em se olhar a um espelho quando tudo corre rápido da boca. Sim, anjinhos papudos: que tal mostrar o quanto são alminhas perfeitas começando por o sendo realmente de alguma forma? Deixa o mentiroso, que também já o foste. Deixa ser manipulador, que o poderás vir a ser. Não julgues o que por ti muitas vezes julgado foi. Perde tempo com o que interessa. Para quê focar em tanta coisa má, em tanta vida alheia, quando há tanta vida verdadeira à espera?!

Então, de todo, eu prefiro ser um demónio e viver uma vida real. Aceitar que não sou perfeita. Ver o mau e o dia de chuva. Deixar o trovão cair às vezes. Porque viver num mundo de fantasia, num céu maravilhoso estrelado ou num mar magnífico de rosas não dura para sempre. Quero antes este meu mundo, que sendo um inferno, é habitado de realidade, onde não reina a fantasia e me prepara tanto para o Verão como para o Inverno.

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