19 de maio de 2015

Planeta sem órbita


     Vivo num mundo só meu. Num planeta sem órbita. Numa terra sem leis. Vivo de dentro para fora. E de fora eu vivo por dentro. Vivo o pouco e muito. Respiro o tudo e o nada. Habitat de costumes estranhos que se entranham. Vida de trás para a frente. E da frente para trás onde o tempo não existe. Horas que não são horas e minutos que pouco ou muito valem. O meu relógio funciona a expirações e inspirações. O tempo para. O tempo avança. 

     Vivo num mundo só meu. Este mundo, que a muitos, de louco se assemelha, e a poucos se assimila. Não tenho satélites. Não há luas. Porque eu tenho as minhas. Crescentes. Minguantes. Cheias. Cheias de nada. Vazias de tudo. Novas do que passou. Velhas do que indo acontece. E sou de eclipses e de aparições milagrosas. 

     Esta terra, que é um dito que falou. Esta via, que é porque acontece. Um mundo solto. Um mundo leve. Um lugar onde chove. E quando chove eu sinto a chuva. E sinto o sol. E o arco-íris. E o vento. E a brisa. Este mundo onde tudo acontece. E nada fica por acontecer. Um espaço onde sou eu. Verdadeira. Um mundo onde o meu sorriso é o sorriso. Sorriso, que não é o que não parece ou o que poderia ser. Sorrio quando quero. E escondo-me no vale mais escuro, quando a luz me magoa os olhos. Olhos que choram. Olhos que vêm. Olhos que captam a vida.

     Este mundo onde há e não há. Um mundo sem cortinas. Um mundo sem teatros. Aqui, neste pequenino planeta habito. Aqui ao lado. Mesmo ao lado do teu. Do teu planeta. Do teu planeta sem estrelas que guiam. Do teu planeta onde o Sol és tu mesmo. O Sol que ilumina. A ti.

13 de maio de 2015

Vamos criar um mundo diferente?


Vamos criar um mundo diferente? Vamos? 

Vamos criar um mundo onde o sorriso vem primeiro. Vamos lutar por viver num lugar onde não esperamos os milagres acontecerem. Um mundo onde partirmos para o desconhecido, e de olhos vendados e mangas arregaçadas encaramos o tudo e o nada. O pouco e o muito. E quando o pouco existe, o muito fazemos por procurar. E quando muito acontece e precisamos de menos, vamos respirar e dar um passo se cada vez. Não devemos esquecer que a criança aprende a andar, primeiro gatinhando. E antes que os seus passos sejam seguros, vai tropeçar no caminho. Mas vamos lutar por esse caminho. Pela nossa jornada. Vamos parar de viver neste mundo de queixumes e lamúrias. Vamos parar de pedir milagres. Vamos parar de lamentar não termos mais. Não sermos mais. Vamos deixar o que o vizinho tem, o que o primo ambiciona ou o que o colega sobeja. Vamos deitar as mãos ao trabalho, pegar na enchada, cavar a terra, para semear e colher os frutos. Deixemo - nos de culpar Deus por isto e por aquilo. Deixemo - nos de colocar nas mãos da religião os nossos falhanços, a nossa preguiça ou a pouca sorte. A sorte é para quem a procura. A agulha que está escondida num palheiro tem que ser procurada, quer haja mais ou menos palha. Tens que a procurar. Ela não vai aparecer sozinha. Então, vamos lutar por um mundo assim. Um mundo de lutas e conquistas. Um mundo onde a felicidade está apenas nas nossas mãos. Um mundo onde o sorriso amanhece connosco e a força e a coragem entardecem ao nosso lado.