28 de outubro de 2014

Princesinha, a rainha da coroa de flores!


Era uma vez uma princesa. Pequenina, loirinha, olhinhos de amêndoa e pele muito branquinha. Vivia num castelo muito grande, rodeado de muralhas muito, muito altas. A princesa sempre teve muito medo de se aproximar. Estava tão bem dentro do castelo: quentinha, protegida, com todos os confortos e mordomias. Nunca tinha que pensar em nada, preocupar-se ou ter medo do que quer que fosse.
Um dia, a princesa acordou diferente. Não sabia bem o que tinha, mas estava diferente. Abriu a janela e olhou para o céu. Respirou aquele ar e pensou : "Vivo há tanto tempo neste castelo!". Mas o que a princesa não sabia, era que na realidade, nunca tinha conhecido o mundo lá fora.
A princesa inspirou fundo e deixou-se estar a olhar o céu durante mais uns minutos. Foi quando de repente, uma pomba veio parar mesmo à sua frente, no parapeito da janela. A pomba virou a cabecita para a direita e depois para a esquerda. Deu uma picadela na mão da princesa e saiu voando para além das muralhas. A pequenina princesa suspirou, ganhou coragem, soltou o cabelo do laçarote que tinha preso bem no altinho da cabeça, despiu o vestido todo trabalhado em pérolas, e deixou-se ficar apenas com o corpete e as calças de veludo interiores que todas as meninas princesas usavam por baixo dos seus melhores vestidos. Saiu pela porta grande do salão, aproximou-se das muralhas e respirou profunda e lentamente. Olhou para as escadas muito a pique que terminavam mesmo lá no alto, na muralha. Subiu degrau a degrau, aproximou-se da borda e olhou para o que rodeava o castelo. Uma floresta verde, com muitas árvores floridas, pinheiros altos, arbustos com muitos frutinhos vermelhos...e o cheiro?...Aquele cheiro!... Era parecido ao seu perfume, mas mais puro, mais fresco, intenso, verdadeiro. Naquele momento, a princesa não duvidou. Precisava passar aquelas muralhas, correr em direção àquela floresta, respirar mais de perto aquele ar, sentir aquele cheiro.
A pequenina questionava-se porque nunca tinha passado aquelas muralhas. Porque nunca tinha vivido aquele mundo lá fora. Até porque os grandes portões sempre estiveram ali...à disposição dela. Poderia ter ido em qualquer altura. Nunca esteve presa ali dentro. Sempre esteve daquele lado por livre e espontânea vontade. Mesmo sem perceber porquê, até porque naquele momento não era o que mais interessava, a princesita desceu as escadas e pediu aos guardas para abrirem o grande portão. Não hesitou: saiu, viveu, correu, magoou-se, curou-se, sorriu e chorou. E sim, a princesa voltou ao castelo. Voltava sempre que precisava de repousar os olhos das cores vibrantes e dos cheiros intensos daquela floresta. A princesa voltava!... A pequenina, agora rainha com coroa de flores! Mas nunca, nunca mais fechou ou deixou que lhe fechassem os grandes portões.

24 de outubro de 2014

Tu, que dizes?

Porque tanto reclamas? Passas a vida a queixar-te. É porque tens frio e porque tens calor. Porque estás feliz de mais ou porque a tua vida é um inferno. Estás bem, mas queres estar mal. Quando mal queres estar bem. Essa vida que tu levas, só te prende. Só te deixa para trás. Diz -me o que queres. Achas que vais chegar a lado algum? Pensas mesmo conseguir alguma coisa assim? Deixa-me rir. Então, te digo: não passas de um ignorante e energúmeno  que nunca vais sair da cêpa-torta. É que és cêpo. E vais continuar torto! Pessoa, acorda! Acorda, desses queixumes! O mundo que te rodeia não é teu! Tanto te queixas que me dói a cabeça. Dói-me de tanto te ouvir. E sabes uma coisa? Não me queixo. Estou aqui. E estou para ti. Mas vais parar. Parar de te queixar. O quê? Tu, que dizes? 

22 de outubro de 2014

Quem garante?


Rasgada e ferida. Indomavelmente crua. Tempestuosa. Ora serena, ora falada. A orla em que me encontro. Escura, abafada, longínqua. Eu não acredito ser! Mas serei? Sou. Nervosinho miúdo, neblina de palmo e terra. Sou eu. Eu. Não acreditei ao princípio. Conspiração maldita! Como poderia ser? Não seria. Ou seria? Seria. Era eu. Eu. Falsa? Não! Mas parecia. Ou pareço? Tamanha confusão. Tamanho embrulhar de petrificadas soluções. Embaraços. Egoísmo. Egoísmo. Mergulhei nele. Afogada? Quase. Salvei-me da tal luzita brilhante. Foi por ti. Por ti. Deixei-a estar. Mais um pouco. Ainda é cedo. Miudeza. Sacanagem. Danado consentimento. Efémero desejo. Só para contigo. Só pára contigo. Mais tarde. Ou mais cedo. Platão? Não! Melhor. Muito melhor. Entre abraços e castigos. E até perdições. Maldades! Sentida. Injusta. Ora serena, ora falada. Saqueando. Saqueando-te. Mesmo. Brilhante. Mas apagada. Triste. Sonhos e pesadelos. Sonhos. Vou sonhando. Sonharei? Sim. Acredito. Confesso. E vou confessando. Mais te confessarei. Aos pouquitos. Não te chateies. Sabes que gosto de ti. Assim. Desta maneira. Infinita. Duradoura. Persistente. Admito? Hum...Não sei! Sofrerei? Talvez. Quem garante? Ninguém. Vou arriscar. Vale a pena? Diz -me tu. Tu. E eu.

Quanto baste

Tudo tem um tempo. Tudo tem uma hora. Não queiras atropelar os momentos. Não queiras chegar ao destino, sem antes passares pelo trânsito. Pelos cruzamentos. STOPS. Sinais de cedência. Porque ao longo do caminho, vais encontrar sinais vermelhos. Verdes. Amarelos. E intermitentes. E precisas disso. Precisas de parar. De olhar com atenção. Por vezes vais ser avisado. Multado. Multado por excesso de velocidade. Outras vezes por ires devagar demais. Acalma-te. Viaja devagar e depressa o quanto baste. Não queiras atropelar peões. Não reconhecer as passadeiras. Viaja com tranquilidade. Usa o cinto de segurança e não passes os limites de velocidade. Mas não pares. Viaja sempre. Mas viaja ao teu ritmo. E deixa o tempo, levar as horas que precisar para chegares ao destino.

21 de outubro de 2014

Bem-me-quer mal-me-quer


Bem sei que ainda está longe a primavera. O inverno ainda nem chegou. Mas não compreendo as estações. Não compreendo o ciclo. A repetição. Aqui só há flores. Flores, folhas, jardins e às vezes nevoeiro. Outras vezes vento. Vento, muito vento. E eu sopro. E sopro. Porque às vezes, meu bem, tudo é bom. Outras vezes, tudo é mau. Então, te digo: não vivas as estações. Vive a chuva. O sol. O frio. O quente. A noite. O dia. Porque um dia, meu amor...Um dia, é bem-me-quer, e outro dia, meu bem, é mal-me-quer.

18 de outubro de 2014

Como um segredo


Deixa-te estar dentro de ti próprio, não saias do casulo que construíste, não saias do universo alienado. Fecha essa porta que te define e que mostra o teu mundo aos profanos. Fecha esse teu arco de esperança, a tua bola de cristal não existe, é ilusão tua, é o teu sonho transformado em quase nada. Despe-te da ira que te domina, contradiz-te em segundos, e não esperes pela hora que se aproxima, não esperes pelas lágrimas que querias ver cair ou sentir. Eleva o teu corpo acima de ti próprio, sobe as escadas, escala a muralha dos teus olhos e funde-te no outro que te atrapalha, que te deixa sem jeito, que amas. Planta a árvore da vida que cortaste com as tuas mãos, mexe na terra molhada e na água fria, chama o vento e respira o ar, não queiras dominar o fogo que tens dentro. Deixa-te voar, nesse plano que se estende à beira do teu abismo. Deixa-te estar só, ou com mais alguém. Nunca te dês um fim, deixa-te escrever a primeira palavra, que o resto eu digo-te ao ouvido como um segredo.


17 de outubro de 2014

Só eu sei


Há dias assim. Dias em que só eu sei. Só eu me percebo. Completo. Respeito. São dias às vezes de chuva. Dias às vezes de sol. São dias. E são noites. Noites em que quero estar sozinha. Sozinha e contigo. Porque te quero. Mas à minha maneira. Quero porque quero. E porque só eu sei. Sei que só eu sei. Mas não sei o que quero. Se te quero hoje. Se te quero sempre. Há dias assim. Em que só eu sei.

Assim escondida


Hoje quero esconder-me. Não quero que ninguém me veja. Ou que alguém me olhe.
Hoje vou andar pelo escuro. Vou fugir da luz. Fugir do dia.
Hoje só saio à noite. Vou sair à noite. E durante a noite vou fingir que é dia. Vou andar assim escondida. Assim por aí. Escondida.
Hoje quando estiver escondida vou ver nascer o dia. O sol nascer. O dia começar. A noite acabar.
Hoje depois da noite, já vou querer o dia.
Hoje vou deixar de querer andar assim escondida.

16 de outubro de 2014

Podes dar um jeitinho


Será que hoje podes acordar bem disposto? É hoje o dia que te levantas da cama e finalmente deparas com a realidade? A tua realidade. Aquela que está à tua volta. Sim, essa toda. Estás vivo e estás aqui. Não podes continuar a sonhar a vida toda. O trabalho, os problemas, as desilusões, as tristezas e as angústias. Sim, essas coisas que tornam a tua vida num inferno. São essas mesmas coisas que te tornam quem és. Tu não vives num sonho. Aqui é a realidade. Aprende a vivê-la. Aprender a gostar. Amar. Sofrer. Viver. E amar. Amar mais. E mais. Aprende. Aprende sempre. Estás aqui para chorar e para rir. Acorda para a realidade e vive intensamente. Vive o frio e o quente. O verão e o inverno. Abre os olhos. Tira a máscara. Afasta as cortinas. Porque tu estás aqui. Vives neste momento. Neste mundo. Mundo onde tudo acontece. O bom e o mau. Onde há pessoas tristes e contentes. Pessoas que gostam de ti e outras que te odeiam. Vá, acorda. E se duvidares tenta de novo. Tenta. Tenta uma e outra vez. Tenta até conseguires. Até dares um jeito. Eu sei que podes dar um jeitinho.

15 de outubro de 2014

Vive


Olá. Sou eu. Eu quem. Tu sabes. Não deves saber. Se sabes. Como sabes. Viver não é saber. Saber não é viver. Respira. Inspira. Expira. Um passo de cada vez. Uma corrida vagarosa sem meta. Porque queres chegar sempre a algum lado. A algum porto. Porque não navegar e marejar uma onda. Apenas. Apenas uma onda. Tu queres um mar inteiro. Um oceano todo para ti. Naufragar sem perder o sentido. Fugir sem ser encontrado. Queres tudo. E não queres nada. Queres e não queres. Queres porque queres. Deixa de querer. Esquece o destino. Navega apenas. Apenas. Solta o futuro. Esquece o passado. Vive o presente. Vive. Vive. Vive. Vive bem. Vive feliz. Vive o dia-a-dia. Vive porque sim. Vive sempre. E vive todos os dias. Isto sou eu. E tu quem és.